Xande

          O Alexander é um grande amigo que não vejo há muito tempo.


          O Alexander é casado com a Jane (pelo menos era até a última vez que nos vimos) e tem um filho, que agora deve estar com uns quatro anos. Se é que não fez mais nenhum nesse tempo.
          Conheci o Alexander na UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina. Fizemos algumas disciplinas juntos, no curso de Engenharia Mecânica. Isso em 1992, por aí.
          Ele veio falar comigo, se não me engano no final de uma aula de Álgebra Linear ou qualquer coisa do tipo, porque achou interessante um livro que estava comigo e que eu estava lendo. O livro era Powershift – A Quarta Onda, de Alvin Tofler. É um livro de sociologia, ou ciências sociais, ou futurologia, que eu havia emprestado da biblioteca e que, sinceramente, estava muito mais interessante que a aula de álgebra.
          Provavelmente o Alexander achou interessante o fato de outra pessoa, além dele, se interessar por assuntos que tinham pouca relação com o curso de Engenharia Mecânica.
          Saímos da aula conversando sobre o livro, depois fomos tomar umas cervejas. Depois continuamos tomando cervejas e conversando sobre todo tipo de assunto por vários anos.
          Foi através do Alexander que conheci várias pessoas interessantes em Florianópolis.
          Nós éramos meio “outsiders” no curso de Engenharia.
          Eu fui fazer engenharia meio por acaso. Fiz o colegial e não sabia o que queria ser quando crescesse. Meus pais eram professores de Universidade e sempre haviam falado para todos os filhos que nós poderíamos escolher o curso que quiséssemos desde que a universidade fosse pública. Meus pais eram separados e tinham um acordo, que já estava valendo para os meus dois irmãos mais velhos e também valeria para mim e meu irmão gêmeo Zedu. Se escolhêssemos estudar fora de Marília, cada um deles nos daria um salário mínimo e meio para que nos mantivéssemos enquanto estivéssemos estudando. Se não quiséssemos estudar em uma faculdade então deveríamos começar logo a trabalhar. Eu, como não sabia que curso queria fazer, mas sabia que queria sair de Marília, prestei vestibulares para várias cidades. Em Rio Claro não passei (o curso escolhido foi Ecologia, na UNESP, porque no Guia do Estudante dizia que era o melhor curso de Ecologia do país. Em Campinas não passei (o curso era Biologia, na UNICAMP, porque no Guia do Estudante dizia que era o melhor curso de Biologia do país. Em Florianópolis não passei (o curso escolhido foi Engenharia Mecânica, na UFSC, porque o Guia do Estudante dizia que era o melhor curso de Engenharia Mecânica do país).
          Não passei em nada e tive que ficar em Marília mais um ano fazendo cursinho e enchendo a paciência da minha mãe, que já contava com uma vida mais tranqüila sem filhos por perto.
          Mas conheci Florianópolis e, andando na praia da Armação decidi: - Quero morar aqui.
          Estudei mais, com mais seriedade, e no ano seguinte passei nos vestibulares para São Paulo (Fatec – Técnico Mecânico), Guaratinguetá (Unesp – Engenharia Mecânica) e Florianopolis (UFSC – Engenharia Mecânica). E fui morar em Florianópolis.
          O Alexander saiu da casa dos pais com 15 anos. Foi para o Rio Grande do Sul e depois fez escola técnica. Sempre trabalhou e estudou ao mesmo tempo. Até que entrou na Engenharia Mecânica da UFSC. Na UFSC o Alexander trabalhou no Certi, que é uma fundação ligada à Universidade e aos cursos de Engenharia.
          Tínhamos perfis diferentes da maioria dos alunos das engenharias. Eu estava estudando engenharia quase por acaso e o Alexander tinha muito mais curiosidade tecnológica do que vontade de estudar. Os outros alunos, basicamente, encaravam o curso como uma maneira de garantir um bom futuro social e econômico. Inclusive eram muito competitivos uns com os outros.
          Enquanto a maioria dos alunos estudava cotidianamente e de maneira disciplinada para se formarem com as melhores notas, eu e o Alexander estávamos mais interessados em interagir com pessoas de outros cursos, conhecer outros lugares da cidade, praias, bares, ir a festas, etc.
          Enquanto a maioria dos alunos encarava o curso de engenharia como um fim, uma meta, um prêmio que haviam conquistado por passarem no vestibular, eu encarava como um meio, que me possibilitou morar em Florianópolis no auge de minha juventude, e que me ajudaria a escolher o que fazer dali em diante.
          Quis o destino, que depois de muitas festas, muitas provas e muitos anos, eu me formasse e o Alexander desistisse do curso de Engenharia Mecânica.
          Fui morar em Joinville, depois em Curitiba e agora em Resende, sempre trabalhando como Engenheiro.
          O Alexander continuou no Certi por um tempo, mesmo depois de abandonar o curso de engenharia. Depois saiu e foi trabalhar em outras empresas ligadas à mecânica.
          A última vez que nos encontramos pessoalmente foi na casa dele, no morro do Pantanal em Florianópolis. Seu filho tinha acabado de nascer e ele estava feliz da vida.
          Depois disso nos falamos uma vez por telefone ou e-mail, quando me falou que havia mudado de Florianópolis.
          Depois perdemos totalmente o contato.
          Grande abraço, Xande. E tudo de bom!

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