Meza

          A amizade tem seus mistérios.

          Eu e o Meza tínhamos pouquíssima coisa em comum a não ser o fato de que acabávamos de entrar na universidade e estávamos procurando um lugar pra morar em Florianópolis.

          Conheci ele na biblioteca da UFSC. Um conhecido comum chamado Zé Roberto era de Penápolis (como eu) e estava na mesma turma de engenharia elétrica do Mezaroba. Foi o Zé que me disse que o Meza estava procurando gente para dividir um apartamento que seu pai tinha alugado na Serrinha (bairro vizinho da UFSC).
          Conversei com ele, vi que eu tinha condições de dividir o aluguel e indiquei outro cara de Marília, da minha turma de engenharia mecânica, chamado Belém, para morar junto conosco.
          Uma semana depois éramos cinco caras dividindo um apartamento de 2 quartos. Todos recém saídos da casa dos pais. Além do Meza, eu e o Belém, tinha ainda um cara chamado Sérgio, que era o melhor aluno da turma do Mezaroba, e um gaúcho de Caxias do Sul cujo nome me esqueci totalmente.
          Éramos, os cinco, muito diferentes uns dos outros. E os únicos que se tornaram amigos fomos justamente eu e o Meza.
          O Mezaroba era todo bombado, vivia fazendo musculação na academia. Contou sua história. Seu pai era sócio de um posto de gasolina em Itajaí. Quando pequeno era muito magro e vivia apanhando dos outros. Resolveu dar um basta na situação e começou a malhar. Ficou fortão e os outros passaram a respeitá-lo. Isso mostra que ele desde novo já era muito determinado.
          Eu era bem diferente disso. Filho de professores, sem nenhum interesse especial em praticar esportes. Muito quieto e meio rebelde.
          Mas acabei me dando bem com o Meza. Talvez porque ele, como eu, sempre gostou muito de cerveja. Íamos sempre tomar cerveja e comer lanche em um boteco que tinha na esquina. O Meza também gosta muito de ouvir música e na época tinha comprado um som bom e levado pro apartamento. A gente ficava ouvindo música muito alto. Guns & Roses, essas coisas.
          Fizemos muita bagunça nesse prédio e fomos convidados, formalmente, a nos mudarmos de lá.
          Saímos e fomos morar numa casa bem modesta que batizamos de “Santino’s House”, porque ficava no quintal da casa do dono, que se chamava Santino. Lá moramos eu, o Mezaroba, o Zé, o Dezotti e um gaúcho, primo do Luciano, da turma do Meza. Era uma casinha muito ruim e quente. No quarto onde eu e o Mezaroba dormíamos não havia janelas. No verão era complicado. Dormíamos com as janelas (da sala) abertas para pegar uma brisa.
          Assim que pudemos, nos mandamos de lá. Eu fui o primeiro. Fui morar num apartamento com uns caras que estudavam engenharia mecânica e estavam mais avançados no curso que eu. Depois eu e o Mezaroba alugamos uma kitinete no centro e fomos morar lá por mais uns dois anos. Finalmente minha mãe comprou um apartamento na barra onde eu morei muito bem até me formar.
          Daquela época lembro das lazanhas que comíamos na casa dos pais dele em Itajaí. Muito bom. Inesquecível.
          Lembro, também, dos caras da turma dele de engenharia elétrica: Buiú, Gaúcho (Luciano), Landel, Frank. Tomara que estejam todos bem.
          Penso que eu e o Mezaroba nos damos tão bem também porque, apesar de sermos pessoas com interesses diferentes, sempre nos respeitamos muito. Não me lembro de ter brigado ou sequer discutido alguma vez com o Mezaroba. E quem o conhece sabe que isso é coisa rara porque ele é um cara meio enfezado. Nunca quisemos impor o que era certo ou errado um ao outro e dessa forma sempre convivemos sem problemas.
          Mezaroba se casou com a Joelma e foi fazer mestrado. Eu me formei e fui trabalhar em Joinville.
          Anos mais tarde ele foi dar aulas em Joinville, onde está até hoje. E moramos novamente juntos por uns três meses até ele encontrar um apartamento e trazer a Joelma.
          Eu conheci a Siana. Passamos a morar juntos. Depois fomos pra Curitiba e agora estamos aqui em Resende.
          Mezaroba descasou da Joelma e ficou só com o Guto (o cachorrinho).
          Atualmente Mezaroba está namorando sério de novo. É doutor e virou, além de professor universitário, sócio de uma empresa que faz conversores sob encomenda. Pelo que me diz, as coisas vão bem. Eu sempre disse e continuo dizendo: as empresas brasileiras não morrem de fome, morrem de indigestão. Portanto, tenham sempre o controle das contas e não assumam compromissos que não possam cumprir... Mas pelo jeito estou tentando ensinar o padre nosso ao vigário. Eles sabem o fazem.
          Espero que você arranje um tempo pra vir me visitar. Minha casa estará sempre aberta pra você e sua família. Tudo de bom pra vocês.
          Sempre que tiver oportunidade te procurarei para tomarmos a velha e boa cerveja.
          Grande abraço.

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