Sal

          Dizem (acho que foi o Sal quem me disse) que os amigos a gente não conhece, a gente reconhece.


          Reconheci o Sal na casa onde o Babs estava morando, no centrinho da lagoa (da Conceição, em Florianópolis). Na casa moravam, além do Sal e o Babs, a Alice, a Loló, o Jacaré e a Suzi (que eu lembre). Além dos namorados, namoradas e não fixos que eventualmente dormiam lá (eu passei a ser um deles).
          Bando de gente jovem, bonita e animada!
          Eu e o Sal passamos (ou voltamos) imediatamente a ser amigos. Naquela mesma noite fomos tomar umas cervejas e conversar, depois galinhar no centrinho da lagoa, depois jogar sinuca no “Chupa-cabra”. E assim passaram-se meus últimos anos em Floripa, na companhia dessa gente bacana.
          O Sal toca violão também. E sempre que possível nos re-encontramos com violões e cervejas por perto.
          Aquela casa do centrinho da Lagoa fez história. Primeiro porque era estrategicamente localizada. Era um ponto de encontro onde se fazia o aquecimento para as baladas na lagoa. Muitas vezes o esquenta virava festa e todo mundo ficava por lá mesmo. Segundo porque quando as baladas na rua estavam fracas a gente ia pra lá e fazia a festa.
          Época boa. Florianópolis sempre me trás ótimas lembranças.
          Mas deixe-me filosofar um pouco sobre amizade e vida adulta (talvez seja esse o propósito implícito desse livro):
          Penso que amigo é quem a gente não precisa fazer força para respeitar. Respeita naturalmente.
          Como matilhas, amigos andam em bandos. Na juventude, bandos numerosos. Na vida adulta bandos menores. Na velhice, salve-se quem puder!
          Sal, meu amigo, estou no que as pessoas chamam de vida adulta. Na vida adulta o espelho nos lembra diariamente que não somos mais jovens. Na vida adulta os jovens nos tratam por Sr. ou, o que é muitíssimo pior, “tio”. A um adulto não são toleradas idiotices ou irresponsabilidades. Não há mais espaço para comportamentos inocentes. Não há mais espaço para quem não sabe o que quer. Não há espaço para quem não quer nada. Quem for assim, na vida adulta, terá problemas. Nenhum bando o aceitará.
          Por outro lado a vida adulta nos dá certas coisas que aos jovens é raro. Independência (pelo menos para os adultos que conseguiram sair do colo da mãe). Independência normalmente conquistada à custa de trabalho que, por sua vez, nos toma tempo e disposição (para os que não sabem se planejar). Portanto, de modo geral, os adultos que trabalham têm algum dinheiro, mas não têm tempo. Têm liberdade, mas saem pouco de casa. Os que trabalham viajando voltam para casa no seu tempo livre. E não sobra quase nenhum tempo para os amigos. O que é uma armadilha.
          Pergunto aos que são mais velhos: Mais vale a presença de amigos nos confortando na velhice ou o isolamento em uma casa confortável? Pois eu quero os dois!
          Quero uma casa confortável e muitos amigos lá dentro. E violões e cerveja e vinhos e boa comida e bom humor. E que assim seja!
          Sal, nessa casa você estará sempre, seja lá onde for.
          Essa casa, hoje, fica na Rua Roberto Rivas, 224 – Jardim Ipiranga – Resende – RJ.
          De todas onde morei nos últimos 10 anos é a única que você ainda não veio. Venha quando quiser. Tem cerveja, vinhos, violões, conforto, redes, além de um quarto com ótima acústica pra tocar os violões e cantar.
          Grande abraço amigo e tudo de bom.

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