Chico

          A primeira vez que vi o Chico foi tocando violão no Colégio Cristo Rei. Acho que uma vez por semana os padres organizavam um showzinho e os alunos da escola se apresentavam tocando sozinhos ou com banda. O Chico se apresentou sozinho e a música que eu lembro que ele tocou foi “Odara”, do Caetano Veloso.


          Conheci o Chico pelo Flávio, seu irmão. O Flávio eu conheci no Yara Clube de Marília, através da Paquinha (Claudinha) que ele estava namorando e que estudava comigo no colégio Amílcare Mattei.
          Logo nos enturmamos e passamos a andar juntos. A turma, naquela época, era basicamente o Flávio, o Duda, Xexê, o Paulinho, eu e o Zedu, meu irmão. O Chico era um pouco mais velho que a gente e meu contato com ele foi crescendo aos poucos.
          O Chico e o Flávio moravam numa casa grande perto do Cristo Rei. O Chico tinha um carro bacana, um Escort Guia e, algumas vezes, saía com a caminhonete bege cabine dupla do pai dele. Lembro de ter ouvido pela primeira vez o disco “Dois”, do Legião Urbana, naquela caminhonete. O Flávio tinha um jipão vermelho.
          O Chico e o Flavio tinham um monte de coisas bacanas. O Flávio era metido à surfista. Tinha prancha de surf e skate. O Chico era metido a músico. Tinha um violão bonito pra caramba e muito gostoso de tocar. E tocava bateria numa banda.
          Eu ía na casa deles e ficava ouvindo os discos dos anos 80. O primeiro disco do Ira, que tem “Núcleo Base” e “Ninguém Precisa da Guerra”. O primeiro disco dos Paralamas: “Cinema Mudo”. O primeiro disco do Capital Inicial. Uma fita K7 com bandas de Brasília: Escola de Escândalos, e um monte de outras coisas da época.
          Foi mais ou menos nessa época que trabalhamos como garçons no Flor Pastel. Primeiro o Duda. Depois o Flávio, depois o Zedu e eu. O Flor Pastel era uma pastelaria que funcionava em uma casa antiga na Rua 4 de abril (será 7?) e que, à noite, se transformava na boate “Espelho Mágico” que era o lugar mais legal de Marília naquela época. Fui trabalhar no Flor Pastel porque a gente não tinha que pagar entrada no “Espelho Mágico”. Foi ali que dei o primeiro beijo de minha vida, ao som de “Índios” do Legião Urbana, em uma menina chamada Solange, que eu só via lá dentro. Ficamos uns 6 meses nos agarrando nos fins de semana no Espelho Mágico e nunca tivemos curiosidade de nos encontrar fora de lá. Nunca mesmo, nunca nos encontramos em outro lugar. Coisas de adolescentes.
          O Chico, com sua banda, tocou algumas vezes lá. No “Espelho Mágico” foram várias e várias noites muito bacanas.
          Eu, nessa época, tinha um topete enorme e cabelo curto atrás, mas com um “rabinho” que ia até o meio das costas e andava com aquelas roupas ridículas dos anos 80. O auge do ridículo foi usar um sobretudo com ombreiras pra ir à escola, em pleno verão mariliense.
          Isso me faz lembrar a célebre frase do Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam!”.
          Voltando ao Chico. Lembro que eu admirava, e continuo admirando, a facilidade que ele tem para tocar músicas. Seja violão ou bateria. Toca fácil. Me ensinou um monte de músicas dos anos 80. E algumas coisas no violão. O jeito de tocar com a mão direita. A afinação em Sol aberto, que tem um som muito bonito. Músicas dos Beatles e Led Zeppelin. O som do violão de 12 cordas que deve ser tocado com leveza e que enche o ambiente.
          Gosto muito de tocar violão com o Chico. Mas faz tempo que a gente não toca junto. Lembro de uma vez, quando fui na casa dele e nós dois tínhamos acabado de “descobrir” o disco Nevermind do Nirvana. O Chico tocou quase todas as músicas no violão. E a gente ficou tomando cerveja até de madrugada. Amizade feita de música.
          Outra coisa que faz falta é tomar uísque com o Chico. Para isso ele é a melhor companhia que existe. Mesmo porque não tem pressa de ir embora. Até mesmo porque na maioria das vezes estávamos na casa dele e quem deveria ir embora era eu.
          O Chico, além da música, é um ótimo veterinário. Daqueles que gostam mesmo de animais. Entende dos bichos.
          Agora ficou grávido da Elaine e vai ter um filho.
          Tá morando em Embu. Perto de São Paulo.
          A última vez que nos vimos foi quando eu estava vindo trabalhar (e morar) em Resende. Fomos tomar umas num bar com música ao vivo lá em Embu das Artes. Para variar, a noite foi muito agradável. Tomamos vários uísques e matamos a saudade.
          Chico, tudo de bom pra você e pros seus.
          Qualquer hora apareço aí pra tocarmos violão e tomarmos uísque. E pra eu rever o Flávio, pois já deve fazer uns 20 anos que não nos vemos (não é mentira - o tempo passa rápido demais!).
          Abraços e lembranças ao seu pai e sua mãe.
          Até mais.

2 comentários:

Unknown disse...

olá rato!!!!! ame essa ideia sua...e lendo sobre o chico me deu uma saudades daquela epoca...
quero um livro hahahahaha
beijos

Eu e vocês disse...

Fernanda,
acabo de chegar de Embu. Fui lá na casa do Flavio e tomamos vários uisques junto com o Chico a Elaine, meu amigo Claudinho, Gustavo, Dr. Marques, uns amigos do Flavio e a criançada.
Estava ótimo!!!
Pena que, de tanto uisque, quase não consegui tocar violão com o Chico. Mas fiquei tentando até as 4 da manhã!
Quanto ao livro, vou mandar um pra Elaine e peço pra ela te entregar.
Tudo de bom.