Binder

          Conhceci o Binder através de um amigo, o Alexander (Xande, tem um capítulo pra ele lá no fim do livro). O pretexto para nos conhecermos foi tocar violão. Deve ter sido em 1992. Por aí.

          O Binder morava em um apartamento junto com o Evandro, em frente ao H.U. da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis. O Alexander conhecia os dois de Rio do Sul-SC, onde os 3 haviam morado, e que era também a terra da Jane, namorada do Alexander e ex-namorada do Evandro.
          Esse apartamento era bastante movimentado e ainda bem que as paredes não falam...
          O Binder é uma das figuras mais “gente boa” que eu conheci na vida. Prioriza, assim como eu, as amizades.
          Binder, junto com o Seco, o Sapão, o João e o Fernando fizeram uma banda e animaram várias e várias festas. “Jonny Lee & The Bluesmakers”.
          Participei de grande parte dessas festas e desses dias. Éramos todos jovens. Morávamos em Florianópolis, sem família por perto (e achávamos isso muito bom!). Mulheres não faltavam. Bonitas e interessantes. E interessadas em nós.
          Eu era feliz e sabia.
Binder, na banda, tocava guitarra, teclado e gaita de boca. Tinha uma cabeleira loira cacheada e comprida. E vivia falando “-Saca?”. “- Tá ligado?”.
          Eu, nessa época, também tinha cabelo grande e meu interesse maior era música. A faculdade estava em segundo plano.
          Desde pequeno tive um ouvido bom para música. Para ouvir música, principalmente. Para prestar atenção à música. Até hoje, se entro em qualquer ambiente com música, mesmo que o volume esteja baixo, minha atenção se volta para a música. Fico tentando reconhecer o ritmo, o músico ou banda que está cantando ou tocando. Presto atenção à melodia e à harmonia, que é como a música se desenvolve, quer dizer, o que acontece antes e depois na música, como é a introdução, se tem refrão, se segue a receitinha de bolo: estrofe, estrofe, refrão, estrofe e refrão. Se a musica é realmente boa, minha atenção se volta à letra. Como se encaixa com a música. O que está dizendo. Etc.etc.etc.
          Não sou um bom músico e nunca tive vontade de ser. Meu interesse é a composição.
          Gosto bastante de tocar violão entre pessoas mais íntimas, mas sou muito tímido para sair por aí tocando para pessoas que eu não conheço. E como meu interesse é por composição, pela música em si, nunca tive vontade nem paciência para tocar música ruim, ou para tocar mal uma música boa. Pelo menos na frente de quem eu não conheço.
          Meu amigo Binder tem esse mesmo tipo de interesse em música. Porém, é bem menos tímido e já subiu em palcos pra tocar para desconhecidos centenas de vezes. Mas para tocar Blues, um tipo de música que ele conhece e domina bem.
          Acho até que por isso nos tornamos amigos. Por compartilhar um interesse peculiar, que a maioria das pessoas não tem. Elas ouvem e usam a música como um ingrediente social, que ajuda a criar um clima romântico dentro de um carro, num quarto de motel ou para criar um clima de festa, quando querem festar. Eu, como tenho esse ouvido mais exigente, prefiro ouvir e fazer outros sons num motel, pra não correr o risco de brochar com uma música muito ruim. E prefiro que a festa seja em minha casa ou na casa de pessoas que tenham um gosto musical parecido, para não correr o risco de me entediar numa festa que pode estar animadíssima, cheia de gente bonita, mas com uma música ruim.
          Enfim, meu amigo, agora estamos todos carecas, não é?
          Agora ouço mais Chico Buarque e menos AC/DC. Agora ouço mais Cartola e menos Led Zepelin (não é verdade – continuo ouvindo muito Led Zepelin, mas hoje gosto mais do Cartola). Agora ouço mais “Detalhes” do que “Eu sou terrível”.
          As festas diminuíram. Por outro lado, estou aqui escrevendo confortavelmente em minha casa, deitado na rede, pleno sabadão de manhã. E tô achando a vida boa pra caralho.
          Grande abraço, amigo.
          Como minha intenção é entregar esse livro pessoalmente às pessoas com quem perdi contato, você provavelmente vai me sair bem caro. Mas nós merecemos. Itália, me aguarde!

Um comentário:

Eu e vocês disse...

Obrigado pelas palavras Binder.
Londres é logo aqui. Já já dou um jeito de ir.